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CAPELA DA MISERICÓRDIA DE AROUCA

Saímos do Mosteiro e do Museu de Arte Sacra bastante satisfeitos com a nossa decisão de uma visita guiada.
Mesmo em frente fica a igreja da Misericórdia que havia de fechar às cinco e meia. Antes que fechasse e já que estava a chuviscar, atravessámos a praça e fomos.

Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Diz na fachada que os devotos a fizeram no ano de 1612. 
À porta estava uma Senhora  que cumprimentámos e entrámos.
O teto da nave principal apresenta pinturas de alguns santos da Igreja Católica, com destaque para os apóstolos, os evangelistas, os doutores da igreja e outros santos da devoção popular. 


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Prestámos atenção ao tecto, às paredes e aos altares.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

No altar Mor as figuras remetem para a paixão de Cristo e são, inclusivamente, usadas na procissão dos fogaréus que saí na quarta feira anterior ao domingo de Páscoa.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Mas isto sabermos nós agora! Na altura só conseguimos classificar as imagens com adjectivos pouco católicos.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Estávamos tão perplexos com aquela arte que sentámos, fizemos pesquisas na internet e nem assim conseguimos identificar correctamente todas as imagens.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Foi tal a ignorância que saímos sem sequer nos apercebemos que estariam também à nossa disposição a sacristia e a casa do despacho onde ainda poderíamos ter visto pinturas, utensílios litúrgicos e paramentaria.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Saímos pelo mesmo caminho por onde entrámos e também só percebemos à saída que todo o espaço se encontra vigiado por câmaras. 


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

A pergunta que ficou nas nossas consciências pesadas foi: "Será que também tinham áudio?"

Agradecemos à Senhora e Ela fechou a porta atrás de nós e saiu também.


Capela da Misericórdia - Arouca - PORTUGAL

Voltámos ao carro que tínhamos deixado antes de almoço, para subir até ao calvário.



Estamos a visitar: AROUCA PORTUGAL    








ARTE SACRA - VISITA GUIADA - MOSTEIRO DE AROUCA

No século XIII a chegada de Dona Mafalda Sanches ao Mosteiro atraiu Senhoras da nobreza que ingressaram trazendo riquezas e criadagem. 
Este altar dedicado a Nosso Senhor da cana verde foi executado no século XVIII por artistas entalhadores de Braga e foi uma oferta de uma religiosa abastada, noviça ou monja, ao Mosteiro.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


São riquíssimas as obras de Arte Sacra oferecidas ao Mosteiro pelas famílias abastadas das que aqui professavam.
Esta é uma pintura em madeira de Nossa Senhora do Rosário e à volta os quinze mistérios. 
Uma riqueza de bom gosto.

Nossa Senhora do Rosário - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Apesar de a partir do século XIII o Mosteiro ter adoptado a Ordem de Cister, está homenageado nestes dois altares de São Bento e São Bernardo o período Beneditino anterior.

São Bento - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


São Bernardo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Um de nós gostou muito desta obra que é uma representação escultórica da Sagrada Familia. 
E quem gostou até estava disposto a trazer para casa, mas o guia disse que lá ficava melhor...

Sagrada Família - Museu de Arte Sacra - Arouca - PORTUGAL

Não sou lá grande coisa a identificar imagens de santos mas com esta não há muito que enganar, o guardião das chaves do céu é São Pedro.
Se também repararam nas chaves, de certeza não lhes escapou que não são iguais. Uma é original e outra reconstruída.
Pobre São Pedro que, mesmo dentro de um mosteiro, não conseguiu escapar ao momento de tentação de alguém que talvez achasse que por ser santo, uma só chave lhe bastaria para abrir as portas do céu... e levou a outra. Ou será que achou que, por passar a ter uma das chaves do céu, teria entrada assegurada?

São Pedro - Museu de Arte Sacra - Arouca - PORTUGAL

Este relicário é uma obra de joalharia do século XIII que estava registada no testamento de D. Mafalda Sanches. É realmente extraordinário estar perante uma peça que se tem a certeza ter pertencido a uma figura tão importante para a nossa história e história desta região.

Relicário de Santa Mafalda - Museu de Arte Sacra - Arouca - PORTUGAL




11 SÉCULOS CONTADOS NUM INSTANTE - A HISTÓRIA DO MOSTEIRO DE AROUCA

O primeiro Mosteiro surgiu aqui na zona Arouca no século VIII.
Foi destruído pelos mouros árabes e reconstruído no século X, passando a pertencer à Ordem Beneditina.
O edifício que visitamos agora é datado dos séculos XVII - XVIII. Do anterior existem alguns vestígios na ala Norte, que não é visitada.
Criado inicialmente como Mosteiro masculino, pouco tempo depois recebeu uma ala feminina e passou a Mosteiro dúplice. Este foi o factor determinante na sua história até aos dias de hoje. 

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

No século XIII, quando o Mosteiro de Arouca apresentava sinais de decadência, deu-se a entrada da personagem mais importante de toda a sua história. Falo de Dona Mafalda Sanches.
Mafalda Sanches de Portugal era filha de D. Sancho I, neta de D. Afonso Henriques e irmã de D. Afonso II.
Filha, neta e irmã de Rei, Dona Mafalda trouxe ao Mosteiro nobreza, notoriedade, importância, bens e o dinheiro suficiente para as tão necessárias obras.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Pouco agradada com o rigor que encontrou, Dona Mafalda alternou a Ordem Religiosa de Beneditina para Cisterciense, uma Ordem com normas de disciplina, sacrifício e clausura mais rigorosas.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


A boa localização não muito longe de cidades como o Porto, Aveiro, Coimbra e outras do centro do país, bem como a presença de Dona Mafalda, atraíram ao Mosteiro jovens e Senhoras da nobreza que traziam consigo haias, criadas e dote.
As Senhoras não trabalhavam, apenas oravam. Haias e criadas ocupavam-se das tarefas que faziam o Mosteiro funcionar: cozinha; limpeza; horta; doces para vender... o dote pertencia também ao Mosteiro.
As entradas de dinheiro e bens convertidas em obras de arte, bem como algumas ofertas de monjas mais devotas e abastadas, transformaram este Mosteiro num espaço reconhecido pelo valor da sua arte sacra.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, ficou determinado que cada Mosteiro ou Convento passaria a património do Estado à medida que fossem morrendo os últimos religiosos residentes.
A última religiosa do Mosteiro de Arouca, Dona Maria José Gouveia Tovar de Meneses, faleceu em 3 de Julho de 1886. Prevendo este desfecho, um grupo de destacados cidadãos arouquenses tomaram a iniciativa de fundar a Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda no intuito de reter em Arouca o riquíssimo espólio patrimonial acumulado ao longo de séculos no mosteiro e ao mesmo tempo preservar o culto da Rainha.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL



É graças à Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda, a quem foi entregue a guarda e administração» do legado deixado pelas monjas, e com o qual veio a fundar em 1933 o Museu de Arte Sacra de Arouca, que hoje é possível ao visitante apreciar as magníficas obras de pintura, escultura, ourivesaria, paramentaria, mobiliário e livros antigos.









 

A VIDA DE UMA RAINHA SANTA QUE NUNCA FOI SANTA NEM RAINHA

O Museu de Arte Sacra ocupa o espaço que era dos dormitórios das monjas. 
Aproveitamos o encontro com esta estátua em tamanho real em relação à representada e,   esculpida num único bloco de madeira, para apresentar aquela que foi a figura mais importante deste Mosteiro e de Arouca, a "nossa mui amada Rainha Santa Mafalda". Foi assim que o guia a apresentou.
Nasceu no meio de uma prole de onze irmãos, todos personalidades importantes. 
O nome Mafalda vem da avó, Sanches vem do pai Sancho porque, naquele tempo, o sufixo "es" indicava "filho/a de".
 Filha de D Sancho I de Portugal e de D. Dulce de Aragão, assim se fez Mafalda Sanches de Portugal.
Foi criada por uma aia, Senhora de posses, que lhe deu uma educação religiosa e lhe deixou terrenos em herança que, juntamente com os que seu pai lhe doou, a transformaram em  proprietária importante e poderosa na zona de Arouca.
Preocupado com o perigo que o poder das irmãs poderia representar para o seu reinado, D. Afonso II encarregou-se de as casar cedo com pretendentes a outros tronos. Cada uma delas, ao casar, sairia de Portugal deixando para trás terrenos e títulos.
A Dona Mafalda calhou casar aos treze anos com o seu primo Henrique I de Castela de apenas dez anos. 
E para lá foi. E lá se casou. E lá haveria de ficar até que a Idade permitisse que fossem entronados e que o casamento pudesse ser consumado.
Nessa época era regente em Castela uma tal de Berengária, irmã mais velha de Henrique, que não achou muito próprio que fosse uma portuguesa a suceder-lhe caso algo acontecesse ao seu irmão e logo tratou de procurar motivos válidos para anular o casamento. E encontrou!
Afonso II, querendo casar sua irmã com um primo, estava obrigado a pedir uma autorização especial de consanguinidade ao Papa, coisa que não fez.
Assim, o casamento de Henrique e Mafalda foi anulado um ano depois de ter sido celebrado, para grande gosto de Berengária. 
Meses depois da anulação Papal do casamento Henrique foi atingido na cabeça por uma telha que se desprendeu da torre do castelo enquanto brincava com outras crianças no páteo e acabou por morrer.
Muito previdente a mana Berengária!

Santa Mafalda - Museu de Arte Sacra - Arouca - PORTUGAL


Acabada de chegar de Castela, D. Mafalda apercebeu-se que, para além de um marido, uma coroa e um reino, tinha perdido também os territórios que lhe calharam em testamento por parte de seu pai e sua aia. Uma cortesia de seu irmão, o Rei Do. Afonso II que considerava nefasto para a unidade do reino o poder que as irmãs tinham sobre os territórios que lhes tinham calhado em testamento.
Sem marido, sem coroa, sem reino e sem o território que tinha sido seu por direito, Dona Mafalda não se conformou. Com a ajuda de alguns nobres, encetou uma contenda com seu irmão pela posse do território.
D. Afonso II morreu e a contenda não ficou resolvida.
Foi seu sobrinho, o Rei D. Sancho II, que conseguiu chegar a um acordo: devolveria às tias soberania sobre os territórios que lhes eram devidos, desde que estas abdicassem do título de rainha.
Sem marido, sem coroa, sem reino e agora sem regência possível, mas com a sua soberania sobre os terrenos de Arouca recuperada, recolheu-se ao Mosteiro de Arouca. Com uma educação religiosa e um casamento não consumado, não havia motivo para que assim não fosse.
Não fez noviciado, nunca professou, mas a sua chegada ao Mosteiro trouxe grandes mudanças.

Museu de Arte Sacra - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Mesmo sem nunca ter sido monja ou Abadessa, Dona Mafalda ocupou a sua vida na administração deste Mosteiro bem como do Mosteiro de Rio Tinto e ainda conseguiu fundos para o restauro e construção de templos religiosos.
Eram frequentes as suas deslocações entre Arouca e Rio Tinto e, numa dessas deslocações, veio a falecer,
no dia 1 de Maio de 1256, aos 61 anos, muito para além da esperança de vida do seu tempo.
Deixou escrito que queria ficar sepultada no Mosteiro de Arouca, vestida como uma rainha e com coroa e ceptro.
Fez-se um cortejo fúnebre de Rio Tinto até Arouca e foi sepultada em urna de granito na igreja do Mosteiro.
Já muito mais tarde, no século XVII, por ocasião das obras de recuperação na igreja, foi necessário proceder à abertura do túmulo e, para surpresa de todos, o corpo encontrava-se incorrupto.

Túmulo de Santa Mafalda - Igreja do Mosteiro de Arouca - PORTUGAL

Para que se pudesse testemunhar da integridade do corpo de Dona Mafalda tantos séculos após a sua morte, foram feitos alguns trabalhos de conservação a cera no rosto e foi colocada numa urna de vidro, à vista de todos, num dos altares laterais da igreja do seu Mosteiro de Arouca, vestida de rainha com coroa e ceptro, tal como era de sua vontade.
Por uma vida dedicada à religião, por ter contribuído de forma significativa para a recuperação e construção de templos religiosos e até talvez por relatos de alguns milagres que os mais devotos lhe foram atribuindo, foi beatificada no ano de 1793. Ficou conhecida para a Igreja como Beata Mafalda de Portugal.
Foi a população de Arouca que a colocou até hoje no lugar que sempre achou ser seu por direito: "Nossa Mui Amada Rainha Santa Mafalda".

Túmulo de Santa Mafalda - Igreja do Mosteiro de Arouca - PORTUGAL