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CADEIRAL DO CORO DAS MONJAS - MOSTEIRO DE AROUCA

Esta é a sala do cadeiral do Mosteiro de Arouca, uma obra executada por artistas e entalhadores do Porto, na sequência de obras de reabilitação promovidas no reinado de D. João V, o Rei que dispunha de todo o ouro e madeiras exóticas do Brasil e que sempre dedicou especial atenção a mosteiros e conventos.
Um espaço a não perder mas que, apesar de estar separado da igreja apenas por uma porta gradeada, só está disponível a quem faz visita guiada ao Museu de Arte Sacra.

Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

São 104 assentos feitos em madeira de jacarandá que, apesar de formarem um cadeiral, não são cadeiras, chamam-se misericórdias. E, apesar de terem assento, as misericórdias eram pouco usadas para sentar.
Apenas as monjas podiam ocupar este espaço. Faziam-no sete vezes por dia, tantas vezes quantas as orações diárias a que estavam obrigadas e que tinham que fazer sempre de pé.
Dizem os incrédulos que Elas aproveitariam os assentos basculantes e os seus longos hábitos para se apoiarem semi sentadas aparentando estar de pé como era devido.
Não sabemos! Quem poderia testemunhar eram as noviças que assistiam às orações do varandim, lá no alto da sala, mas também Elas professaram ao fim de dois anos de noviciado e " só sabe o que vai no convento quem lá está dentro".

Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Se não lhas mostrarem, perguntem por elas. Foi o que nós fizemos.
Se tiverem tempo e as quiserem procurar, sempre posso dizer que estão de meio da sala para a frente, uma de cada lado.
Muito interessante de facto esta sala do cadeiral em que os assentos se chamam misericórdias em vez de cadeiras e em que cada misericórdia está decorada com uma carranca.
São 104 esculturas de caras carrancudas todas diferentes, sendo que, as mais famosas são estas duas, a carranca dos óculos e as carrancas gémeas.

Carranca dos óculos - Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Carranca dos gémeos - Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Aquelas estruturas piramidais ali ao centro são porta-partituras. Não tenho a certeza que seja este o nome correcto, mas tenho a certeza que, com a designação que lhes arranjei, sabem de certeza para que servem. E, muito provavelmente, até já sabiam antes de eu ter começado com esta conversa. Então passamos à informação seguinte.
Dentro destes porta-partituras foram encontradas pautas de cânticos Beneditinos, por isso, papéis que datam do período entre os séculos X e XIII e que ainda hoje lá se encontram.

Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Leonardo Da Vinci pintou-a sóbria, solene, com maior ou menor significado dependendo de quem a interpreta e abriu a porta para que outros com mais ou menos arrojo, com mais ou menos imaginação, com mais ou menos liberdade, se atrevessem também a representar um dos momentos mais marcantes da vida de Cristo.
Na América latina, por exemplo, os apóstolos têm feições indígenas e a mesa está composta com iguarias da cozinha local. Já para não falar de todos os memes que aparecem por aqui nas redes sociais.
Então esta representação da última ceia com mesa redonda é só mais um resultado de arrojo, imaginação e liberdade.

Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


A jóia da coroa do cadeiral do coro das monjas é este órgão do século XVIII de vinte e quatro registos, que conseguem sons que vão desde o canto do rouxinol até ao som de uma trombeta de guerra.
Com sorte pode ser ouvido ao fim de semana.

Cadeiral do coro das Monjas - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL








SÃO FAVAS CONTADAS

A cadeira da Madre Abadessa está onde sempre esteve aqui na sala do Capítulo, encostada à parede de topo e de frente para a sua audiência de monjas e noviças.
Passar da cadeira de monja para a de abadessa implicava ganhar uma eleição de características bastante peculiares.
Em frente à cadeira da Madre Abadessa era colocada uma mesa. Em cima da mesa dois pratos com favas em grão, um prato com grãos de favas brancas e outro com grãos de favas pretas. A seguir aos pratos, um pote de barro por cada candidata, com os respectivos nomes.
Cada monja, ao passar pelos pratos tirava favas brancas e favas pretas. No pote correspondente à sua candidata preferida colocava uma fava branca e nos restantes potes favas negras.
Ganhava a eleição para abadessa a candidata com maior número de favas brancas, por isso, a eleição para abadessa do Mosteiro de Arouca "são favas contadas", uma expressão que ainda hoje se usa.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL





SER CHAMADO A CAPÍTULO - UMA VEZ OU OUTRA, JÁ TODOS FOMOS

Eram monjas, eram noviças, a regra da Ordem de Cister era muito rigorosa mas, mesmo assim, as coisas nem sempre corriam bem.
Cada vez que uma monja ou noviça se portava mal era chamada à Sala do Capítulo, sentava-se de frente para a Madre Abadessa e recebia uma repreensão, castigo, ou advertência.
Ainda hoje, em Arouca, sempre que alguém é chamado para uma conversa difícil diz-se que é "chamado a capítulo".

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL



SALA DO CAPÍTULO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

A sala mais importante para o funcionamento do Mosteiro era a sala do Capítulo.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Era aqui que eram recebidas as noviças e era aqui que lhes eram explicados os seus direitos e deveres para estar e vir a professar como monjas.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Também era aqui que se decidiam actos comuns de administração do Mosteiro, compras, vendas, festividades, convites para as festividades, quem poderia sair para visitar outros mosteiros e funcionava até como assembleia e tribunal.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Para ornamentar a sala das decisões importantes, foram encomendados painéis de azulejos setecentistas à fábrica de Coimbra com representações de cenas de caça, de pesca e do quotidiano arouquense.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Talvez porque as reuniões eram longas e, certamente, porque o inverno em Arouca superava em rigor o que uma monja cisterciense era capaz de suportar, a sala estava equipada com um alçapāo que dava acesso a um tanque com água quente onde conseguiam manter os pés aquecidos e, quem sabe, tomar melhores decisões... ou não!

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL





REFEITORIO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

Ao contrário da cozinha que até parece que para funcionar só lhe falta a lenha e as panelas, o refeitório está vazio.

Refeitório - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Lá vamos outra vez ter que pôr a imaginação a trabalhar!

Refeitório - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Este espaço tem que ser imaginado com uma mesa em"u", no topo a abadessa e suas serviçais, de um dos lados noviças e do outro monjas. E, claro, todas em silêncio. A ordem de Cister não permitia que se conversasse enquanto se comia. A única interrupção permitida ao silêncio era a leitura de orações ou textos bíblicos por uma monja ou noviça, lá do alto do púlpito.
Já que estamos a imaginar monjas e noviças sentadas à mesa a ouvir leituras bíblicas em silêncio, posso pôr em cada uma delas o balāozinho dos seus pensamentos?... é só continuar a imaginar...

Voltamos ao claustro para nos dirigimos à Sala do Capítulo








COZINHA - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

Do claustro passa-se ao lugar onde nasceram as receitas dos doces conventuais que nos deixaram colados às montras das pastelarias lá fora.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Enquanto ouvia as explicações pus-me a imaginar o que seria a azáfama diária desta cozinha nos seus tempos áureos. As grandes panelas a fumegar, as senhoras de um lado para o outro, as vozes, acho até que cheguei a ouvir o estalar das cascas dos ovos e a sentir o cheirinho do ponto de açúcar.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Há lugares que fazem realmente trabalhar o poder da imaginação.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Mesmo ao lado da cozinha fica o refeitório.





CLAUSTRO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

 A visita guiada ao Mosteiro começa pelo claustro. Foi para lá que nos encaminharam e foi lá que o guia foi ter connosco.
Ups... nós já tínhamos visto aquele senhor...
Depois de almoço, enquanto vagueávamos ali nas imediações, fomos testemunhas involuntárias de uma acesa e bem audível discussão entre dois homens.
Uns ouvimos umas coisas, outros vimos outras, reunimos informação e concluímos tratar-se de uma questão entre sogro e genro e o motivo da discussão era a filha do primeiro e, por consequência, esposa do segundo.
Não sabemos mais do que isto porque nós não somos desses mas, com o genro na nossa frente para nos fazer a visita guiada, o grande desafio foi não deixar que os nossos olhos perguntassem o que as nossas bocas calaram.
Adorámos o Mosteiro, gostámos de conhecer Santa Mafalda, sabemos a história mas, cada vez que falarmos desta visita, esta vai ser a estória que há-de vir sempre ao de cima.

Claustro - Mosteiro de Arouca - PORTUGAL


No claustro, não nos passaram despercebidas as lajes do chão.
Rapidamente concluímos que seriam sepulturas de monjas mas havia dois factos que não conseguíamos explicar: as lajes são muito pequenas e umas estão numeradas e outras não.
Então, a cada cinco lajes corresponde uma sepultura. As sepulturas não numeradas pertencem a noviças ou monjas, as numeradas a uma abadessa.
Somos fãs de visitas guiadas!

Claustro - Mosteiro de Arouca - PORTUGAL


Daqui passamos à cozinha.
















VISITAR O MOSTEIRO DE AROUCA

Não há-de haver ninguém, por mais distraído que seja, que consiga chegar ao centro de Arouca sem encontrar o Mosteiro. Não foi o Mosteiro que nasceu em Arouca, foi Arouca que cresceu à volta do Mosteiro.
A visita faz-se em duas etapas: a igreja que é de entrada livre e gratuita; e o Mosteiro propriamente dito, com vistas guiadas de meia em meia hora e pagamento de bilhete. 
Dada a riqueza das obras expostas e a qualidade da informação recebida durante a visita guiada, o valor de 3€  que pagámos de entrada, não é caro nem é barato, é simbólico.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Por precaução reservámos visita guiada por telefone uns dias antes da ida. Fizemos bem porque ficámos descansados mas, também ficámos com a sensação que, em caso de esquecimento, consegue-se fazer a visita guiada na mesma. Inclusivamente, tinhamos visita marcada para as 15.00H e conseguimos fazer mais cedo.

Começámos pela igreja que estava de porta aberta, coisa que já não é muito comum nos dias que correm.




Estamos a visitar: AROUCA PORTUGAL    


IGREJA DO MOSTEIRO DE AROUCA

 Desengane-se quem vir a porta da igreja do Mosteiro de Arouca aberta e pensar:
- Vou aproveitar que está aberta e vou fazer já a visita num instantinho.

Igreja do Mosteiro - Arouca - PORTUGAL

Um instantinho não chega!

Igreja do Mosteiro - Arouca - PORTUGAL


Cada altar lateral é tão rico e tão belo como os outros e todos competem com o altar Mor.

Altar lateral

Altar lateral


Só um instantinho não chega!

Estávamos com tempo e tomámos todo o que precisámos. 
Agora é o momento de visitar o Mosteiro.











EXCELENTE ALMOÇO NA TASQUINHA DA QUINTA - AROUCA

 "Se vêm almoçar a Arouca é melhor marcarem com antecedência porque, se chegam ao meio-dia, meio-dia e meio já não vão conseguir" - disse a Senhora que nos marcou a visita guiada ao Mosteiro.
Ora, se uma pessoa vai para um sítio de tão boa gastronomia, não é para ficar aguada. Vamos lá levar a sério a recomendação.
A meio do caminho tratámos do assunto.
Tratámos, não! Nesta equipa cada um tem o seu pelouro e no trabalho do Responsável de Catering ninguém se mete que ele não deixa.
Mas, também, como quando alguém sabe fazer uma coisa bem feita a gente deixa fazer sem se meter, assim foi e assim será.
Escolha para o almoço do primeiro dia: Restaurante Tasquinha da Quinta no centro de Arouca. 

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

"- Para entrada sugiro uma tabuazinha de entradas".
Tabuazinha? Entradas?
Não fosse o aspecto daquela carne que estava na brasa quando passámos pela cozinha e esta "tabuazinha" tinha sido de entradas e de saídas. 
Das pataniscas ao presunto, dos torresmos ao queijo e mais o chouriço e mais o bucho... estava tudo a condizer com o aspecto. 

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

A carne que estava nas brasas era da tal vaquinha arouquesa que se desfaz em sabor e que à nossa mesa chegou em forma de nacos no espeto. E desfez-se!

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

A esta altura da refeição já estávamos satisfeitos... muito satisfeitos! Mas isso não significa que não haja espaço para uma sobremesa.
Veio a carta das sobremesas e escolhemos a mais regional e mais diferente que lá encontrámos: morcela doce.
Descansem os que já estão a imaginar uma mistura estranha de carne, sangue e açúcar, que não é nada disso. É um doce conventual que consiste numa tripa de porco recheada com um doce de ponto de açúcar com pão, manteiga, amêndoa e canela. Depois de recheada e fechada, a tripa coze em água fervente e daí o nome de morcela. Seca numa vara em lugar seco em vez do tradicional fumeiro dos enchidos salgados.
Gostámos de provar... mas não trouxemos para casa.

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL



Terminado o almoço, seguimos para a Igreja do Mosteiro de Arouca.





Estamos a visitar: AROUCA PORTUGAL