LENDA DA PONTE DA RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Há muitos muitos anos, Inácio vivia numa das margens da ribeira e andava perdido de amores por Marília que vivia do outro lado do curso de água.
Não era fácil atravessar a ribeira. O caudal era forte e não existia ainda uma ponte.
Para ir ver a sua amada à janela Inácio, todas noites, atravessava a ribeira a pé e a nado.
Certa noite de tempestade, ao tentar atravessar, Inácio viu-se de tal maneira em apuros que começo a gritar por socorro.
Marília, que já estava à janela de vigia e muito assustada com a força da tempestade, ao ouvir gritos, percebeu imediatamente que eram do seu amado.
Muito amedrontada e percebendo que iria precisar de uma força verdadeiramente poderosa para salvar Inácio, Marília prometeu a sua alma ao diabo se este construísse uma ponte que permitisse que ele se salvasse ou, se isso não fosse possível, ao menos que conseguisse ver o seu corpo mesmo que morto.
E eis que Lucifer apareceu a Marília e confirmou que faria de imediato a ponte para poder ficar com a sua alma.
Apavorada com a imagem do diabo e com o que lhe poderia vir a acontecer se lhe entregasse a alma, Marília encheu-se de coragem e impôs-lhe uma condição: só ficaria com a sua alma se a ponte estivesse concluída antes do cantar do galo do quintal do vizinho ali ao lado. Marília não queria que se soubesse no povoado que tinha feito um pacto com o demónio.
Cheio de medo de perder uma alma tão bela e tão pura, Satanás iniciou imediatamente a construção da ponte.
Tinha já a ponte quase pronta e, quando faltava um último pedaço, o galo cantou.
Mesmo com um pedaço em falta Marília conseguiu atravessar a ponte e salvar o seu bem-amado Inácio sem ter que entregar a alma ao diabo uma vez que ele não conseguiu cumprir o acordo.
Marília e Inácio casaram algum tempo depois e foram felizes para sempre.
Quanto à ponte, foi arrasada por uma enxurrada dias depois de ter sido construída e desapareceu para sempre aquela que era uma "obra do diabo".

Ponte da Ribeira Grande - Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES



CRISE SISMICA - SEC. XVI - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Não foi fácil o século XVI aqui na Ribeira Grande para quem cá morava na altura. Enfrentaram a peste na primeira metade, reagiram, reergueram-se, reergueram a sua vila e, quando estava tudo a voltar à normalidade, a terra que tanto lhes deu, foi a mesma que, de novo, quase os destruiu.
Tudo começou com um violento tremor de terra no dia 25 de Junho de 1563.
Esta gente, de tão forte que é, para além do lamento, deu graças a Deus por ter sido de dia. Puderam fugir das suas casas e evitar uma tragédia tão grande como a que tinha acontecido uns anos antes em Vila Franca do Campo.
Foram vários dias de sobressalto e, com os tremores, veio também o barulho do centro da terra.
A crise durou quatro dias e as casas iam cedendo ao ritmo que a terra impunha e a resistência conseguia.
Na noite de São Pedro, de 28 para 29 de Junho, o Pico das Berlengas, o mais alto das redondezas, fez-se cor de fogo e explodiu num violento vulcão.
Nos dias seguintes não se viu o sol e a lava invadiu as ruas da vila fazendo cair as casas que ainda resistiam à crise sísmica.
Quando a terra acalmou ficaram a descoberto o sol, o caminho desenfreado da lava até ao mar, a destruição e a alteração irreversível da linha do horizonte. Tinha desaparecido o Pico das Berlengas.
São legado desta tragédia uma nova vila reconstruída entre os séculos XVII, XVIII e XIX que, entretanto, foi elevada à categoria de cidade; e a tão conhecida Lagoa do Fogo, nascida da cratera do vulcão do extinto Pico das Berlengas.


Parque Municipal - Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES




A PESTE DO SEC. XVI - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

A Ribeira Grande já era um povoado próspero quando recebeu foral de vila em 1507 mas, a partir dessa altura, não parou mais de crescer.
Só que, já se sabe que, não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. A cidade foi assolada pela peste e, ao fim de quase quatro anos de combate, numa última tentativa de debelar a maleita, por ordem régia, foram demolidas as casas dos bairros da margem esquerda da ribeira.
Travou-se a peste, salvou-se a população da destruição total, mas perderam-se as casas que eram testemunhos dos primeiros povoadores que se fixaram nesta zona. 


Parque Municipal - Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES





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PERÍODO ÁURIO - FINAL DE SEC xv - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Os primeiros povoadores que chegaram da ponta Leste da ilha, que atravessaram os vales fundos entre as montanhas e que encontraram a Norte uma planície fértil e bem irrigada, fixaram as suas casas junto à foz da ribeira.
Cultivaram, subiram a montanha pela linha de água, construíram moinhos e o lugar ia crescendo e prosperando.
Em 1474, vindos da Ilha da Madeira, chegaram os primeiros povoadores portugueses. E a prosperidade continua.
Tão férteis e bem trabalhadas eram estas terras, tal era a actividade dos seus moinhos que, numa crónica da época se define um pobre como sendo aquele que tem " quatro sacos de trigo, duzentas abóboras, dez alqueires de favas, algumas cebolas, dois cabos de alhos e um porco à porta e cada um a sua casinha, ou própria, ou do foro".
Estávamos em inícios do século XVI.

Parque Municipal da Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES

ELEVAÇÃO A VILA - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Aqui no Largo de Santo André vale a pena parar um pouco à sombra das frondosas árvores e apreciar o movimento que, neste dia, por acaso, era a montagem do palco e enfeites para a festa.
Claro que não precisamos recomendar a observação do edifício dos Paços do Concelho porque este se impõe por si próprio. Mas desse falamos mais tarde.
Já que aqui estamos, aproveitamos a sombra para voltar a recuar no tempo.
Em finais do século XV trabalhava-se, a terra produzia, a povoação estendia-se em ambas as margens da ribeira e este era o largo do mercado agrícola.
Mas a população sentia falta de assistência religiosa e de serviços públicos. Para assistir à missa tinha que atravessar as serras e ir a Vila Franca, ou Lagoa, ou Água de Pau. O mesmo para pagarem os seus impostos.
Queriam construir uma grande igreja, queriam mais autonomia e ansiavam a elevação do seu lugar a vila.
Elegeram um mensageiro, Lopo de Arez e enviaram-no ao Rei para lhe fazer o pedido.
Foi vila por alvará de El Rei D. Manuel a 4 de Agosto de 1507.
Esse alvará foi lido à população aqui, neste largo, no lugar onde hoje está o edifício dos Paços do Concelho e na presença dos doze homens mais ilustres da terra, que depois se encarregaram da gestão do município.
Eu não disse que valia a pena parar por aqui um bocadinho pelo Largo de Santo André?


Largo de Santo André - Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES







ORIGEM DO NOME - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Os primeiros povoadores de São Miguel, muito antes da chegada dos portugueses, entraram na ilha pela costa Leste, onde está hoje a vila de Povoação e vieram caminhando para Oeste, sempre pela costa Sul.
Quando encontraram uma garganta entre as montanhas atravessaram-na em busca de terrenos mais planos que pudessem ser cultivados, habitáveis e favoráveis à criação de gado.
Encontraram uma planície de terra fértil à beira mar e com uma ribeira que desaguava ali mesmo.
Seguiram a linha de água até à nascente e constataram que aquela ribeira era o resultado da junção de duas outras mais pequenas. Desceram então e estabeleceram-se nas margens da "ribeira grande".


Parque Municipal - Ribeira Grande - São Miguel - AÇORES



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RESTAURANTE DA ASSOCIAÇÃO AGRÍCOLA DE SÃO MIGUEL - RIBEIRA GRANDE - SÃO MIGUEL - AÇORES

Tinha estado em São Miguel há já quase três décadas e, na altura, foi-me apresentado um refrigerante com gás e sabor a maracujá, servido numa garrafa pequena de cor verde. No continente não havia nada igual. Eventualmente, o que mais se aproximava seria o Sumol mas, mesmo assim, teria mais gás e não havia este sabor de maracujá.
Adorei o refrigerante que só os açorianos bebiam e que do qual diziam que a ideia tinha vindo da América graças à presença da base aérea das Lages na Terceira.
Guardei a memória deste sabor mas perdi-lhe o nome.
O ano passado, numa visita à Ilha da Madeira, lá estava ele! Com gás, de maracujá, servido em garrafinha verde, nome de sonoridade semelhante... era bom, mas não sabia ao mesmo 😕.
Voltei vencida e convencida que a modernidade tinha trazido alterações ao gosto da minha memória.
Chegados aqui, quando a Senhora perguntou o que queríamos para beber a resposta foi imediata e determinada: "- Brisa maracujá, por favor".
- Brisa?! - responde a Senhora com um tom entre o indignado e o jocoso, mas sempre simpática - "Isso da Brisa é lá na Madeira. Nós cá temos é Kima e é muito melhor, toda a gente diz".
Veio a Kima! Com gás, garrafinha verde, sabor a maracujá mais intenso e menos gás do que a sua semelhante madeirense. Era isto!!!
Todos gostaram e a mim soube-me quase a sabor de infância.
Afinal a modernidade não estragou a Kima e, cada vez que voltar à Madeira não vou dizer que não a uma Brisa, nem vou voltar a esquecer-me que o nome do melhor refrigerante com gás é Kima, o melhor sabor é maracujá e sabe ainda melhor se for bebido nos Açores.
E o queijo fresco com pimenta da terra, será que ainda sabe ao mesmo?


Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel - AÇORES



Quem anda a preparar uma visita a São Miguel, vá a que sites e blogues for, invariavelmente, encontra logo nas primeiras sugestões o restaurante da Associação Agrícola de São Miguel em Rabo de Peixe, Ribeira Grande. E mandam sempre comer bife.
Como não?
Ah, mas tem ciência!
Primeiro é preciso escolher o corte: lombo; vazia; acém; alcatra...
A Senhora deu uma ajuda: "- O lombo é sempre a parte mais tenra".
Depois há que escolher a dosagem. Para cada tipo de peça estão disponíveis bifes de 200, 300 e 400 gramas. Aqui ajudou mais olhar para o prato do vizinho e perguntar à Senhora: "- Qual é o peso daquele? ... Então pode ser daqueles".
Agora já só falta escolher o molho. E é preciso molho?
Mais uma vez a simpática e competente Senhora foi uma grande ajuda: "- Realmente a carne por si só já é muito boa mas o molho ajuda a realçar ainda mais o sabor da carne".
Há molhos com natas, com cogumelos, com queijo, com piri-piri, com pimenta, com pimenta da terra, com três pimentas e há o molho da Associação, "uma especialidade flambé do nosso Chef".
Daqui para a frente já tudo é fácil, a guarnição é a do costume.
Resultado: um bife do lombo de 200 gramas com molho à Associação com batatas fritas e ovo a cavalo, que se corta sem esforço e se desfaz na boca. Sabe bem como nunca soube nenhum antes. Foi impossível não comer tudo até ao fim.
Felizes as vaquinhas que pastam em tais prados e tão bons lombos criam!


Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel - AÇORES



O desvario já ia grande.
A portarmo-nos bem a refeição teria terminado antes de chegarmos aqui, mas a lista de sobremesas é tão tentadora!
Em cima, pudim de maracujá.
Em baixo, pudim de feijão.
Estavam irrepreensíveis e não se fala mais disto.


Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel - AÇORES


Restaurante da Associação Agrícola de São Miguel - AÇORES






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PRAIA DOS MOSTEIROS - SÃO MIGUEL - AÇORES

Diziam os nossos planos que, depois da Ponta da Ferraria, era para ir até Mosteiros. Diziam também que em Mosteiros deveriam existir no mar uns rochedos conhecidos pelo mesmo nome e que dão o nome ao local.
Não só não fizemos o percurso sem parar como também não encontrámos à primeira tentativa os tais prometidos rochedos.
Vá lá que somos um grupo livre no cumprimento de planos mas também persistente na procura do que queremos.
Antes disso, havia que ceder a uma vontade irresistível de perceber a temperatura da água. 



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES



Para chegar até à água é preciso dominar a técnica do "salta pocinhas", ou então, como dizia uma turista estrangeira que passou em grande velocidade, é preciso ultrapassar a "parte mais técnica do percurso".



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES



Os que saltaram pocinhas e fizeram a parte técnica do percurso até à água tinham um anfitrião de carapaça à sua espera.



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES


Terra de águas com lamas medicinais, bom peixe, boas pastagens, logo, boa carne, o pôr do sol mais bonito da ilha... só encontro bons motivos.
Já sei! Ainda falta que apareçam os tais de Mosteiros. É já a seguir, depois de bem procurados, apareceram.



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES


Se o trabalho de casa não tivesse sido feito, não sei se teríamos aqui chegado. Na realidade, quem está na praia acha a paisagem por si só já muito bonita e depois, se estiver um dia cinzento com aquela humidade que paira e que se sente como chuva, pode não haver grande vontade de subir a rampa que leva ao miradouro... só mais um miradouro!
Mas quem não sobe não vê os tão famosos mosteiros que dão nome à praia e à povoação. São quatro ao todo e são o que resta de uma ilha formada por uma chaminé vulcânica litoral. A rocha ou, se quisermos, o Mosteiro mais alto mede 72 metros acima do nível da água.
Pensa-se que a denominação "mosteiros" vem da tradição cética de estabelecer monasticismo em rochedos.
Pormenores científicos e históricos à parte, o segredo é sentar, apreciar e imaginar como será belo este cenário ao final da tarde, num dia de sorte em que seja possível assistir ao pôr do sol entre os rochedos... perdão, Mosteiros



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES


Já vimos a costa escarpada de Feteiras, demos a volta ao coreto e à igreja de Candelária, mirámos o Farol da Ferraria de todos os lados, espreitámos o mar lá do alto do Miradouro do Escalvado e enchemos de festas os gatinhos do Merendário da Barraca. Mas esta praia de Mosteiros tem um não sei quê que encoraja a gente a saltar poças e torcer pés para chegar à linha de água, ignorar aquela humidade que cai como chuva e subir ao miradouro, esquecer o tempo e ficar a olhar como se nunca tivéssemos visto mar e rocha vulcânica.
Avisados pelos estômagos e com o melhor bife da ilha em perspectiva, agora sim, um argumento de peso para desencantar e zarpar de Mosteiros.
Encontramo-nos daqui a pouco em Rabo de Peixe.



Praia dos Mosteiros - São Miguel - AÇORES




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