MALASSADAS

Entre a Pedra dos Estorninhos e o Salto da Farinha há um caminho para fazer.
A meio do caminho, quero dizer, meio do caminho é uma força de expressão, muito mais perto da Pedra dos Estorninhos do que do Salto da Farinha, fica o parque de estacionamento onde deixámos o carro. Deixámos o carro e deixámos a senhora da carrinha branca.
A senhora da carrinha branca era a única que lá estava quando chegámos. Assim que nos viu sair do carro, falou-nos das suas malassadas, o doce regional que tinha estado a fazer de manhã cedo e que são as melhores ali das redondezas.
Ainda com o almoço bem vivo na nossa memória e a boca a saber a bombons artesanais, comunicámos suavemente que primeiro iríamos às Pedras Negras e as malassadas ficariam para o regresso. Só cá para nós,  a esperança era que a senhora se fosse embora. Mas não foi!
Contra factos não há argumentos e, se a senhora fez boa fé na palavra dos continentais, a única coisa que os continentais tinham a fazer era honrar a palavra dada.
Uma malassada para cada um, por favor.
Enquanto a senhora ia preparando os guardanapos e pegando delicadamente em cada uma, ia fazendo a melhor publicidade possível ao seu produto. 
O que nos entregou para as mãos foi uma iguaria fofa, a saber a laranja, enrolada em açúcar e canela e tão fresca que, se a senhora não tivesse garantido que se tinha levantado cedo para as fazer, diria que tinham sido fritas enquanto fomos ao miradouro.
Saboreámos cada dentada, dissemos muitas vezes "tão bom" e, quando olhámos para trás, a senhora tinha ido embora na sua carrinha branca. Estas eram as últimas que tinha para vender para poder regressar a casa.
Malassada virou palavra mágica para fazer suspirar e crescer água na boca.


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