SÃO FAVAS CONTADAS

A cadeira da Madre Abadessa está onde sempre esteve aqui na sala do Capítulo, encostada à parede de topo e de frente para a sua audiência de monjas e noviças.
Passar da cadeira de monja para a de abadessa implicava ganhar uma eleição de características bastante peculiares.
Em frente à cadeira da Madre Abadessa era colocada uma mesa. Em cima da mesa dois pratos com favas em grão, um prato com grãos de favas brancas e outro com grãos de favas pretas. A seguir aos pratos, um pote de barro por cada candidata, com os respectivos nomes.
Cada monja, ao passar pelos pratos tirava favas brancas e favas pretas. No pote correspondente à sua candidata preferida colocava uma fava branca e nos restantes potes favas negras.
Ganhava a eleição para abadessa a candidata com maior número de favas brancas, por isso, a eleição para abadessa do Mosteiro de Arouca "são favas contadas", uma expressão que ainda hoje se usa.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL





SER CHAMADO A CAPÍTULO - UMA VEZ OU OUTRA, JÁ TODOS FOMOS

Eram monjas, eram noviças, a regra da Ordem de Cister era muito rigorosa mas, mesmo assim, as coisas nem sempre corriam bem.
Cada vez que uma monja ou noviça se portava mal era chamada à Sala do Capítulo, sentava-se de frente para a Madre Abadessa e recebia uma repreensão, castigo, ou advertência.
Ainda hoje, em Arouca, sempre que alguém é chamado para uma conversa difícil diz-se que é "chamado a capítulo".

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL



SALA DO CAPÍTULO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

A sala mais importante para o funcionamento do Mosteiro era a sala do Capítulo.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Era aqui que eram recebidas as noviças e era aqui que lhes eram explicados os seus direitos e deveres para estar e vir a professar como monjas.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Também era aqui que se decidiam actos comuns de administração do Mosteiro, compras, vendas, festividades, convites para as festividades, quem poderia sair para visitar outros mosteiros e funcionava até como assembleia e tribunal.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Para ornamentar a sala das decisões importantes, foram encomendados painéis de azulejos setecentistas à fábrica de Coimbra com representações de cenas de caça, de pesca e do quotidiano arouquense.

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Talvez porque as reuniões eram longas e, certamente, porque o inverno em Arouca superava em rigor o que uma monja cisterciense era capaz de suportar, a sala estava equipada com um alçapāo que dava acesso a um tanque com água quente onde conseguiam manter os pés aquecidos e, quem sabe, tomar melhores decisões... ou não!

Sala do Capítulo - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL





REFEITORIO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

Ao contrário da cozinha que até parece que para funcionar só lhe falta a lenha e as panelas, o refeitório está vazio.

Refeitório - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL


Lá vamos outra vez ter que pôr a imaginação a trabalhar!

Refeitório - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Este espaço tem que ser imaginado com uma mesa em"u", no topo a abadessa e suas serviçais, de um dos lados noviças e do outro monjas. E, claro, todas em silêncio. A ordem de Cister não permitia que se conversasse enquanto se comia. A única interrupção permitida ao silêncio era a leitura de orações ou textos bíblicos por uma monja ou noviça, lá do alto do púlpito.
Já que estamos a imaginar monjas e noviças sentadas à mesa a ouvir leituras bíblicas em silêncio, posso pôr em cada uma delas o balāozinho dos seus pensamentos?... é só continuar a imaginar...

Voltamos ao claustro para nos dirigimos à Sala do Capítulo








COZINHA - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

Do claustro passa-se ao lugar onde nasceram as receitas dos doces conventuais que nos deixaram colados às montras das pastelarias lá fora.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Enquanto ouvia as explicações pus-me a imaginar o que seria a azáfama diária desta cozinha nos seus tempos áureos. As grandes panelas a fumegar, as senhoras de um lado para o outro, as vozes, acho até que cheguei a ouvir o estalar das cascas dos ovos e a sentir o cheirinho do ponto de açúcar.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Há lugares que fazem realmente trabalhar o poder da imaginação.

Cozinha - Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL
Mesmo ao lado da cozinha fica o refeitório.





CLAUSTRO - VISITA GUIADA MOSTEIRO DE AROUCA

 A visita guiada ao Mosteiro começa pelo claustro. Foi para lá que nos encaminharam e foi lá que o guia foi ter connosco.
Ups... nós já tínhamos visto aquele senhor...
Depois de almoço, enquanto vagueávamos ali nas imediações, fomos testemunhas involuntárias de uma acesa e bem audível discussão entre dois homens.
Uns ouvimos umas coisas, outros vimos outras, reunimos informação e concluímos tratar-se de uma questão entre sogro e genro e o motivo da discussão era a filha do primeiro e, por consequência, esposa do segundo.
Não sabemos mais do que isto porque nós não somos desses mas, com o genro na nossa frente para nos fazer a visita guiada, o grande desafio foi não deixar que os nossos olhos perguntassem o que as nossas bocas calaram.
Adorámos o Mosteiro, gostámos de conhecer Santa Mafalda, sabemos a história mas, cada vez que falarmos desta visita, esta vai ser a estória que há-de vir sempre ao de cima.

Claustro - Mosteiro de Arouca - PORTUGAL


No claustro, não nos passaram despercebidas as lajes do chão.
Rapidamente concluímos que seriam sepulturas de monjas mas havia dois factos que não conseguíamos explicar: as lajes são muito pequenas e umas estão numeradas e outras não.
Então, a cada cinco lajes corresponde uma sepultura. As sepulturas não numeradas pertencem a noviças ou monjas, as numeradas a uma abadessa.
Somos fãs de visitas guiadas!

Claustro - Mosteiro de Arouca - PORTUGAL


Daqui passamos à cozinha.
















VISITAR O MOSTEIRO DE AROUCA

Não há-de haver ninguém, por mais distraído que seja, que consiga chegar ao centro de Arouca sem encontrar o Mosteiro. Não foi o Mosteiro que nasceu em Arouca, foi Arouca que cresceu à volta do Mosteiro.
A visita faz-se em duas etapas: a igreja que é de entrada livre e gratuita; e o Mosteiro propriamente dito, com vistas guiadas de meia em meia hora e pagamento de bilhete. 
Dada a riqueza das obras expostas e a qualidade da informação recebida durante a visita guiada, o valor de 3€  que pagámos de entrada, não é caro nem é barato, é simbólico.

Mosteiro de Santa Maria - Arouca - PORTUGAL

Por precaução reservámos visita guiada por telefone uns dias antes da ida. Fizemos bem porque ficámos descansados mas, também ficámos com a sensação que, em caso de esquecimento, consegue-se fazer a visita guiada na mesma. Inclusivamente, tinhamos visita marcada para as 15.00H e conseguimos fazer mais cedo.

Começámos pela igreja que estava de porta aberta, coisa que já não é muito comum nos dias que correm.




Estamos a visitar: AROUCA PORTUGAL    


IGREJA DO MOSTEIRO DE AROUCA

 Desengane-se quem vir a porta da igreja do Mosteiro de Arouca aberta e pensar:
- Vou aproveitar que está aberta e vou fazer já a visita num instantinho.

Igreja do Mosteiro - Arouca - PORTUGAL

Um instantinho não chega!

Igreja do Mosteiro - Arouca - PORTUGAL


Cada altar lateral é tão rico e tão belo como os outros e todos competem com o altar Mor.

Altar lateral

Altar lateral


Só um instantinho não chega!

Estávamos com tempo e tomámos todo o que precisámos. 
Agora é o momento de visitar o Mosteiro.











EXCELENTE ALMOÇO NA TASQUINHA DA QUINTA - AROUCA

 "Se vêm almoçar a Arouca é melhor marcarem com antecedência porque, se chegam ao meio-dia, meio-dia e meio já não vão conseguir" - disse a Senhora que nos marcou a visita guiada ao Mosteiro.
Ora, se uma pessoa vai para um sítio de tão boa gastronomia, não é para ficar aguada. Vamos lá levar a sério a recomendação.
A meio do caminho tratámos do assunto.
Tratámos, não! Nesta equipa cada um tem o seu pelouro e no trabalho do Responsável de Catering ninguém se mete que ele não deixa.
Mas, também, como quando alguém sabe fazer uma coisa bem feita a gente deixa fazer sem se meter, assim foi e assim será.
Escolha para o almoço do primeiro dia: Restaurante Tasquinha da Quinta no centro de Arouca. 

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

"- Para entrada sugiro uma tabuazinha de entradas".
Tabuazinha? Entradas?
Não fosse o aspecto daquela carne que estava na brasa quando passámos pela cozinha e esta "tabuazinha" tinha sido de entradas e de saídas. 
Das pataniscas ao presunto, dos torresmos ao queijo e mais o chouriço e mais o bucho... estava tudo a condizer com o aspecto. 

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

A carne que estava nas brasas era da tal vaquinha arouquesa que se desfaz em sabor e que à nossa mesa chegou em forma de nacos no espeto. E desfez-se!

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL

A esta altura da refeição já estávamos satisfeitos... muito satisfeitos! Mas isso não significa que não haja espaço para uma sobremesa.
Veio a carta das sobremesas e escolhemos a mais regional e mais diferente que lá encontrámos: morcela doce.
Descansem os que já estão a imaginar uma mistura estranha de carne, sangue e açúcar, que não é nada disso. É um doce conventual que consiste numa tripa de porco recheada com um doce de ponto de açúcar com pão, manteiga, amêndoa e canela. Depois de recheada e fechada, a tripa coze em água fervente e daí o nome de morcela. Seca numa vara em lugar seco em vez do tradicional fumeiro dos enchidos salgados.
Gostámos de provar... mas não trouxemos para casa.

Restaurante Tasquinha da Quinta - Arouca - PORTUGAL



Terminado o almoço, seguimos para a Igreja do Mosteiro de Arouca.





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